Rodrigo de Amorim
Não tenho bola de cristal! Frase muito utilizada pra dizer: não sei o que se passa pela cabeça do outro.
Assim são as relações em muitas empresas quando falamos de recrutamento e seleção.
Sei o que quero! Um profissional formado em faculdades de primeira linha, com no mínimo 4 anos de experiência, que fale fluentemente inglês, francês será um diferencial, que conheça as ferramentas da área e assim por diante. Até ai nada de novo, requisitos bem definidos, porém é aqui que a bola de cristal começa a fazer falta e a construção da marca empregadora fará muita diferença.
Imagine que você é um controller que há 11 anos está na mesma empresa. Talvez sinta que é hora de sair da sua zona de conforto, ganhar um pouco mais, conhecer um novo ambiente e encarar novos desafios. Do seu ponto de vista tudo deu certo. Empresa nova, gente nova com muito gás pra dar e vender, cultura nova, escritório moderno e tudo muito flexível, ou seja, quase um sonho. Do ponto de vista do empregador também. Os requisitos bateram, experiência ok, formação uau, dois MBAs sendo um no exterior e pretensão salarial ok. É ele!
Rotina acelerada, reports para os investidores duas vezes ao dia, necessidade de trabalhar com duas telas simultâneas e um smartphone, pois é preciso responder aos colegas por whatsapp, reuniões diárias, chamadas de vídeo, ou seja, correria pura. Claro que tem suas compensações. O clima é muito descontraído e lá pelas 20h os remanescentes, você sempre será um deles, tomam cerveja artesanal, que você não bebe, jogam videogame, que você odeia, ao som de house music, que você acha nauseante, falam do último fim de semana incrível, graças ao Airbnb, enquanto combinam de parar suas “bikes”naquela academia inteligente que custa pouco. “Point”de gente como eles. Eles irão para a academia às 9h, pois o horário de entrada e saída é flexível, flexibilidade essa que pouco lhe interessa em sua rotina familiar.
Parece exagerado?
Retire todo o blá, blá, blá, logo após o whatsapp. Estamos falando de um profissional que trabalhava em uma empresa estabilizada, com uma área administrativa/financeira estabilizada, com uma cultura tradicional, de práticas e rotinas lineares e de um choque profundo. Uma empresa em franco crescimento, testando modelos de gestão, crescendo exponencialmente com riscos igualmente exponenciais, uma pivotagem a caminho, leia aqui , que necessita de profissionais no 220 volts e digamos que nosso controller opere no 110 volts. Ele tinha experiência, tinha todos os requisitos técnicos, se achava super hands on (quem não acha?) e ainda está na casa dos 30. Como aquela bola de cristal faz falta! Mas não deveria. Empresas e pessoas não são iguais.
Como diria Simon Sinek, veja aqui, “o objetivo não é apenas contratar pessoas que precisem de um emprego; é contratar pessoas que acreditem no que você acredita”. Propósito dialogando com propósito.
As estratégias para o consumidor final não são as mesmas para os intermediários, por isso há anos trabalhamos com o conceito de trade marketing, da mesma forma que o produto que o consumidor final, virtual colaborador, consome não é o mesmo que ele encontrará quando se torna um empregado. Aquela empresa que há anos vende produtos para toda a sua família e que no seu imaginário representa dedicação e cuidado absoluto, não necessariamente tem esse clima ou essa promessa para o empregado que deseja um clima para o desenvolvimento de sua criatividade e espírito empreendedor.
“Conhece-te a ti mesmo e a empresa que desejas também”
Saber distinguir e criar valor em todas as ofertas é de extrema importância no cenário competitivo que enfrentamos. Não abra mão do seu feeling, mas aposente sua bola de cristal.